Thursday, November 4, 2010

Poderes e Perigos: Porque e Como Organizar o Discurso, segundo Michel Foucault

"A Ordem do Discurso" de Michel Foucault foi publicado no contexto da nova posição dele como professor da disciplina “Historia dos sistemas de pensamento” no College de France em 1970. Nesse texto, Foucault apresenta a hipótese de que existem procedimentos em todas as sociedades que restringem e organizam a produção de discursos a fim de “conjurar seus poderes e perigos, dominar seu acontecimento aleatório, esquivar sua pesada e temível materialidade”. Desde aquela hipótese, o autor intentou iniciar seu projecto para que fizesse uma análise nos anos seguintes do que percebeu como um paradoxo central na cultura ocidental, ou seja, que dentro de uma logofilia aparente se esconde uma logophobia silenciosa que permeia os discursos em nossa sociedade ocidental.

Foucault disserta primeiramente sobre a estrutura de controle da produção dos discursos, separada, de acordo com ele, entre procedimentos externos e internos. Discutindo restrições externas, o autor apresenta três procedimentos importantes de exclusão do discurso: a interdição (como tabus), a separação histórica entre razão e loucura e a ‘vontade de verdade’ – um sistema de exclusão baseado num grupo de práticas e instituições que estão separando o discurso da noção de poder.

Os procedimentos internos, por outro lado, são definidos pelo discurso e tem a função de limitar acontecimentos aleatórios. O professor coloca nessa categoria os conceitos do comentário, da autoria e da organização das disciplinas: coações internas, alternando em graus de importância relativa através da historia. O comentário, escreve Foucault, restrita o acontecimento do discurso, porque obriga o comentarista a basear-se sobre um discurso já existente. O conceito de autoria pode, em varias circunstâncias, prestar o tirar valor cientifica a um texto. A organização das disciplinas implica regras, técnicas e hábitos próprias a cada disciplina, formando um outro nível de organização, de limitação.

Outro procedimento de controle é a delimitação do discurso e a estrutura de sociedades de discurso. Trata-se aqui de regras e convenções que limitam o acesso ao discurso. Por exemplo, o sistema educativo, ou até a pedagogia em geral, são instituições necessárias para o individual ter acesso a maioria dos discursos.

Foucault delineia quatro princípios a investigar durante seu trabalho. O ‘principio de inversão’, que insiste em reconhecer a dupla-função do sistema de controle dos discursos: uma função positiva mas também negativa. Em segundo lugar, ele expõe que não há, atrás dos silêncios, um discurso ilimitado, um enorme não-dito que deve ser revelado. É a isso que ele se refere quando fala em ‘principio de descontinuidade’. O ‘principio de especificidade’ nega uma ‘providência pré-discursiva’; são os discursos que exercem uma violência sobre as coisas. Finalmente o ‘principio de exterioridade’ dirige o foco da análise no contorno dos discursos, não no centro.

É importante perceber que o escopo não é de destruir ou eliminar aquela dita logophobia, mas apenas fazer uma análise crítica, de forma a ‘questionar nossa vontade de verdade; restituir ao discurso seu carácter de acontecimento; suspender, enfim, a soberania do significante’.

Assim, Foucault estabelece uma visão geral do sistema do discurso na sociedade e desenvolve princípios fundamentais que apoiam sua teoria. Ele demonstra a importância de seu trabalho quando enfatiza o poder material e a violência detendo no discurso. Finalmente, o professor apresenta para seu alunos alguns dispositivos e regras para empreender a analise do discurso.

1 comment: